Saúde mental

O termo “saúde mental” não possui uma definição oficial (segundo a OMS). Mas é possível relaciona-lo com a forma com que lidamos com às exigências, desafios e mudanças da vida e ao modo como harmonizamos nossas ideias e emoções. Diariamente, vivenciamos uma série de emoções, tanto boas quanto ruins, mas que fazem parte da vida: felicidade, tristeza, raiva, alegria, frustração, solidão, etc.

A maneira como lidamos com essas emoções é o que determina a qualidade da nossa saúde mental. Podemos colocar que a saúde mental abrange a nossa capacidade de sensação de bem estar e harmonia, como lidamos com as situações difíceis, conflitos e a compreensão dos nossos próprios limites e incapacidades

O prazer pela vida, por relacionar-se com os outros são de extrema importância para a manutenção da saúde mental A manutenção da saúde mental não é simples considerando que enfrentamos diversas situações de estresse, briga, incapacidades, limitações, isolamento, doenças, etc. uma fonte muito grande de preocupações é em relação ao estudo e trabalho principalmente considerando o momento de pandemia em que vivemos. O desequilíbrio emocional facilita o surgimento de doenças mentais.

Transtorno Afetivo Bipolar (TAB)

Em linhas gerais é caracterizado por uma variação extrema de humor, que vai desde uma fase de hiperatividade física e/ou mental até uma fase de depressão (perpassando por ansiedade ou tristeza e dificuldade de elaborar ou compreender ideias). O TAB é um transtorno crônico e recorrente que afeta mais de 1% da população mundial. É muitas vezes imprevisível e coloca em risco a vida do paciente. Algumas vezes pode cursar com sintomas psicóticos. Ele pode se manifestar em todas as fases da vida e é marcado por episódios de mania (humor persistentemente elevado, aceleração psicomotora, redução do sono, alterações do comportamento e sintomas psicóticos) ou hipomania (semelhante a mania porém em menor intensidade) e depressão (sensação de tristeza - e/ou vazio, sentimento de culpa, autodesvalorização, insônia ou sonolência, dores e sintomas fisicos difusos) isso em períodos alternados.

A apresentação inicial e mais frequente no TAB é a depressão, por isso, é comum confundi-lo com a depressão. O tratamento precoce pode alterar o curso da doença e, dada a natureza do transtorno, o acompanhamento médico deve ser contínuo. A eficácia do tratamento pode ser prejudicada devido à comorbidade do TAB com diferentes transtornos. O próprio prognóstico do TAB pode ser alterado por conta de outras doenças complicadoras. Geralmente, os estabilizadores de humor são os medicamentos prescritos para pacientes diagnosticado com TAB. São essenciais o acompanhamento com psiquiatra e psicólogo, o atendimento às orientações de qualidade de vida com alimentação saudável, sono regulado e atividade física regular e, obviamente, o uso adequado da medicação prescrita.

ASPECTOS SOCIAIS, SUBJETIVOS E ESTRUTURAIS

Quando se pensa em saúde mental, é necessário compreender que ela está determinada diretamente pela capacidade de interação entre os indivíduos de uma sociedade e entre esses e seu ambiente, com suas oportunidades e limitações. Portanto, não podemos analisar a saúde mental pura e simplesmente pelo aspecto individual.

Para compreender as particularidades de adoecimento e sofrimento, é essencial entender a produção social dos aspectos biológicos e psíquicos humanos, ou seja, aspectos acerca das relações sociais, história, cultura, etnia, economia e política da sociedade a qual o indivíduo está inserido. Segundo Breilh, médico epidemiologista equatoriano mestre da área de Medicina Social, a produção de doenças ocorre no plano coletivo e portanto, não há como se dissociar o estudo do processo saúde-doença do contexto social ao qual o indivíduo está inserido. Para essa análise é necessário a avaliação dos processos estruturais de cada sociedade, provenientes de determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Esse complexo demarca um modo de produção específico, abrangendo determinadas classes sociais e suas frações (que podem se segmentar em grupos menores com características singulares). Os grupos possuem determinados perfis de vida que são característicos de uma série de fatores aos quais eles estão associados, seja de maneira direta ou indireta.

Definindo como se dão as relações sociais, é essencial observar o adoecimento mental sob a ótica dos aspectos de gênero. Temos que epidemiologicamente há uma distribuição maior de transtornos mentais (sobretudo à depressão) em mulheres. Para entender porque isso ocorre temos que avaliar uma série de fatores onde destaca-se uma sociedade com valores patriarcais em que se é evidenciado a objetificação da mulher, ignorando suas necessidades e não a reconhecendo como indivíduo pensante, com sentimentos e independência, sendo assim, as mulheres se encontram amarradas em hierarquias socias/relações de poder. Considerando esse aspecto temos em destaque a violência que as mulheres sofrem (tanto física quanto psíquica). Podemos pontuar também questões que estão relacionadas a orientações sexuais e identidade de gênero, tendo como desviantes e marginalizados todos aqueles que não se adequam ao padrão cis-heteronormativo e não se submetem à hierarquia patriarcal.

Voltando nossa atenção para aspectos das relações étnico-raciais, é essencial termos em mente o impacto que o racismo e o genocídio perpetuado tem na construção de indivíduos negros e indígenas no Brasil. O racismo científico justificou as mais diversas violências e ainda hoje não está completamente superado, tendo suas heranças papel central na organização social de uma sociedade racista. Os estudos e evidências científicas estão aquém de promover informações suficientes para uma análise qualitativa do adoecimento mental da população negra, constantemente vulnerabilizada dentro da dinâmica político-econômica atual e por isso exposta à fatores adoecedores.

Também é central — e se associa com os fatores previamente expostos —, as questões socioeconômicas. Condições precárias de vida, má nutrição, desemprego, salários insuficientes, exclusão/marginalização social, dificuldade de acesso à educação e desinformação são apenas alguns dos diversos fatores que circundam os trabalhadores e que se conectam e ampliam resultando em uma exposição e fragilização do indivíduo ao desenvolvimento de transtornos mentais

O psicanalista esloveno Slavoj Zizek defende que, atualmente, a ideologia da produtividade não é algo subliminar ou velado, mas justamente o contrário, ela está evidente em mensagens como “O Brasil não pode parar”. Em um contexto pandêmico, de isolamento e de distanciamento social, a lógica neoliberal do empreendedorismo introjeta, até em nós mesmos, uma autovigilância acerca da nossa produtividade: “eu não deveria estar aqui sem fazer nada”. Nesse sentido, no vasto leque que abrange a psicologia, ela não deve se mostrar como um mecanismo à serviço da produtividade, com soluções prontas de como se manter ativo e desenvolto em tempos de quarentena, tampouco valorizar estratégias meramente individuais de cuidado. Zizek aponta que os profissionais de saúde mental tem como compromisso ético-político denunciar e evidenciar as condições que determinam socialmente o sofrimento psíquico, muitas delas agravadas para grande parte da população em um quadro de crise sanitária de proporção mundial. A pandemia e suas graves consequências colocam em evidência a necessidade de adotarmos um novo modelo de sociabilidade e de solução para os problemas.

Este texto somente não pode esgotar todos os aspectos que impactam diretamente a saúde mental, e tampouco este tema pode ficar restrito ao mês de setembro. Impactam diretamente a nossa saúde mental, a nossa segurança alimentar e a instituição de políticas voltadas à isso, a garantia de habitação, a manutenção de empregos e a distribuição equitativa de renda! Garantir a todas as pessoas o acesso a uma educação de qualidade e políticas efetivas de permanência estudantil é também um cuidado com a saúde mental. Por último, mas não menos importante, defender um sistema de saúde público que ofereça um cuidado integral é ponto central para essa e muitas outras discussões, de janeiro a dezembro.

Textos base:

https://www.einstein.br/saudemental
https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Saude-Mental

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672017000200006

https://www.scielo.br/pdf/rbepid/v17s2/pt_1415-790X-rbepid-17-s2-00126.pdf

https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232001000100006&script=sci_arttext&tlng=pt

http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0870-90252010000200003#:~:text=Neste%20artigo%20s%C3%A3o%20revistos%20alguns,interac%C3%A7%C3%A3o%20familiar%2C%20exclus%C3%A3o%20social%20e

http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/arq6833.ppt

https://medium.com/@saudementalcritica/ideologia-da-produtividade-e-sa%C3%BAde-mental-o-que-a-psicologia-tem-a-ver-com-isso-71a45fab1053

https://www.youtube.com/watch?v=Ai4FJRjTTd4