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Em crise, Unifesp só tem verba até agosto

ISABELA PALHARES E PAULA FELIX – O ESTADO DE S.PAULO

Reitoria destaca contingenciamento de 20% dos recursos federais, liberação de só 60% do previsto para obras e dívida de R$ 12 mi

SÃO PAULO –  Com 20%, ou R$ 13 milhões, do orçamento de R$ 65 milhões contingenciados pelo governo federal, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) só tem condições financeiras para manter as atividades de ensino, pesquisa e extensão até agosto. Segundo a instituição, desde o início do ano, a universidade vem recebendo menos recursos do que o previsto, o que tem sido insuficiente até para manter despesas básicas, como água, energia, limpeza e segurança dos seis câmpus.

Procurado, o Ministério da Educação (MEC) não se posicionou. Segundo a reitora da Unifesp, Soraya Soubhi Smaili Soraya, também havia previsão de R$ 59 milhões em recursos para obras e construções e apenas 60% foram liberados. “A dívida da universidade já está em torno de R$ 12 milhões, o mesmo valor que em todo o ano de 2014. Enfrentamos dois problemas neste ano. Primeiro, o bloqueio dos recursos e, depois, um grande aumento em todos os nossos contratos, por causa da inflação. Por isso, não chegamos a setembro (mantendo todas as atividades).”


A instituição publicou nota em seu site informando a gravidade da situação

A instituição publicou nota em seu site informando a gravidade da situação Foto: Unifesp

A instituição publicou nota em seu site informando a gravidade da situação. “Este manifesto tem a finalidade de divulgar o risco de suspensão das atividades da universidade, caso não sejam liberados imediatamente os 20% dos recursos orçamentários contingenciados e aporte de recursos financeiros para honrar os compromissos.”

Desde 2013, a universidade sofre com os cortes financeiros. Em 2015, criou uma Comissão de Acompanhamento de Contas para melhor gestão dos recursos. Neste ano, 30% dos terceirizados da limpeza e segurança foram demitidos e se deu prioridade aos cortes em gastos que não atrapalhassem as atividades acadêmicas, como o envio de cartas.

Repercussão. Vice-coordenador da Câmara de Pós-graduação da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Unifesp, Ruy Campos diz que alunos, professores e funcionários da instituição já estão sentindo o impacto da crise, mas que as consequências podem ser piores a longo prazo.

“A verba de custeio para manutenção dos programas é um fator de grande preocupação, porque temos um parque de equipamentos de alto nível, sofisticados e caros, e não temos como manter as manutenções corretivas e preventivas. Temos mantido com verba da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que não é suficiente. Só no núcleo de bioequivalência, por exemplo, há equipamentos da ordem de R$ 10 milhões. São estruturas excelentes, que foram montadas ao longo dos anos.”

Campos diz que atua como coordenador de um programa de pós-graduação em Farmacologia e Fisiologia que, até o momento, recebeu apenas 10% da verba que foi repassada nem 2014. “No ano passado já teve uma redução drástica.” Ele afirma ainda que a crise tem afetado o desempenho dos professores. “Há um desânimo dos docentes, orientadores, que deveriam ser o motor da faculdade.”

Aluno do 1.º ano do curso de Licenciatura Plena em Ciências da instituição, Cássio Alberto do Nascimento, de 28 anos, disse que os estudantes estão preocupados com a situação. “A gente está desesperado. É frustrante, porque, como alunos, somos uma parte muito frágil, mas vamos batalhar por uma universidade de qualidade.”

MEC. Procurado, o Ministério da Educação (MEC) disse que não teria tempo hábil para responder. E prestaria hoje esclarecimentos sobre os repasses.


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